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Mistérios do Oceano: A Última Fronteira da Terra

Mistérios do Oceano

Apesar de séculos de exploração e avanços tecnológicos, a verdade é que a humanidade mal arranhou a superfície do nosso próprio planeta. Temos mapas detalhados da superfície de Marte, mas o mundo que existe sob os mistérios do oceano, cobrindo mais de 70% da Terra, permanece um vasto e enigmático universo. Estamos ilhados em nosso próprio mundo, cercados por um abismo de desconhecimento.

Cientistas estimam que os oceanos abrigam mais de dois milhões de espécies, das quais mais de 90% ainda são completamente desconhecidas pela ciência. Cada mergulho no mar é um passo em um território largamente inexplorado. Como disse o dramaturgo William Shakespeare, “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. No entanto, é quase certo que as profundezas do oceano guardam segredos ainda mais profundos e surpreendentes.

Este medo e fascínio pelo abismo aquático tem um nome: talassofobia. E há boas razões para isso. Vamos fazer uma viagem vertiginosa para entender a imensidão que nos espera sob as ondas.

Uma Jornada ao Coração do Abismo

Imagine que você decide explorar o oceano. Aos 40 metros de profundidade, atingimos o limite de segurança para o mergulho recreativo. Aqui, a Estátua do Cristo Redentor já estaria completamente submersa. Aos 93 metros, a Estátua da Liberdade desapareceria sob as águas.

Até cerca de 100 metros, a luz do sol ainda penetra, criando um cenário azul e vibrante. A partir daí, entramos em uma escuridão progressiva. O recorde mundial de mergulho autônomo, uma façanha sobre-humana, foi estabelecido a pouco mais de 300 metros – o equivalente à altura da Torre Eiffel debaixo d’água. Submarinos militares, por sua vez, operam rotineiramente em torno dos 400 metros.

A 500 metros de profundidade, a última centelha de luz solar desaparece. A partir daqui, a escuridão é total. A um quilômetro abaixo da superfície, a pressão é esmagadora e o ambiente é de trevas absolutas, uma profundidade que supera o mais alto edifício já construído pelo homem.

Desvendando os Mistérios do Oceano Profundo

Entramos na chamada “zona batipelágica”, ou o oceano profundo. A temperatura da água aqui gira em torno de frios 4°C. A pressão é o maior obstáculo: a mais de 5.000 PSI, seria como ter o peso de um caminhão sobre cada centímetro do seu corpo. Foi nessa faixa de pressão que a trágica implosão do submersível Titan ocorreu, durante sua expedição aos destroços do Titanic, que repousam a cerca de 3.800 metros.

Neste mundo alienígena, a vida assume formas bizarras e fascinantes. É o lar da lula-colossal, que pode ultrapassar 15 metros, e de criaturas como o peixe-pescador (Melanocetus johnsonii), famoso por sua “lanterna” bioluminescente que atrai presas na escuridão perpétua.

Descendo ainda mais, a partir dos 6.000 metros, chegamos à “zona hadopelágica”, batizada em homenagem a Hades, o deus grego do submundo. O nome é apropriado. Esta zona inclui o ponto mais profundo da Terra: a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, que atinge impressionantes 11.000 metros de profundidade. Para se ter uma ideia, se o Monte Everest fosse colocado aqui, seu pico ainda estaria a mais de dois quilômetros debaixo d’água. Nosso planeta é mais profundo do que alto.

A Conquista do Fundo do Mar: Uma Corrida Silenciosa

A jornada humana para alcançar essas profundezas é uma saga de engenhosidade e coragem. Inspirados pelos estudos de Arquimedes e pelos esboços de submarinos de Leonardo da Vinci, inventores passaram séculos tentando criar uma máquina para explorar o mundo subaquático.

O grande salto ocorreu em 23 de janeiro de 1960, quando o explorador suíço Jacques Piccard e o americano Don Walsh, a bordo do submersível Trieste, tornaram-se os primeiros seres humanos a alcançar o fundo da Fossa das Marianas. Este feito histórico ocorreu quase uma década antes do primeiro pouso na Lua.

Por mais de 50 anos, ninguém repetiu a façanha. Apenas em 2012 o cineasta James Cameron, um apaixonado pelo oceano, realizou o segundo mergulho tripulado. Por muito tempo, mais pessoas haviam pisado na Lua (12) do que no ponto mais profundo da Terra. Hoje, graças a veículos ultramodernos, esse número cresceu, mas a exploração do fundo do mar ainda é um privilégio para poucos.

Mapeando o Desconhecido: O Projeto Seabed 2030

Se a exploração é tão difícil, como conhecemos essas profundidades? Como desvendar os mistérios do oceano? O mapeamento do leito oceânico é um desafio monumental. Nossos mapas de Marte têm uma resolução muito maior do que os do nosso próprio fundo do mar. Para um detalhamento preciso, a tecnologia de sonar é essencial.

Para acelerar esse processo, a iniciativa global Seabed 2030 foi criada. Reunindo embarcações de todo o mundo, o projeto visa mapear 100% do fundo do mar até 2030 com uma precisão sem precedentes. Quando começou, em 2017, apenas 6% havia sido mapeado. Hoje, esse número já ultrapassou a marca de 25%.

Os Riscos e as Recompensas da Descoberta

Este novo conhecimento traz consigo uma dualidade. O mapeamento detalhado poderia facilitar a mineração em alto mar, com um potencial custo ambiental devastador. A poluição humana já chegou aos locais mais remotos, com sacolas plásticas encontradas até na Fossa das Marianas.

No entanto, ignorar o que há lá embaixo não é uma opção. O conhecimento detalhado do leito marinho é crucial. Ele pode nos ajudar a prever tsunamis, entender as correntes marítimas que regulam o clima, proteger ecossistemas e instalar cabos de internet. Mapear o fundo do mar pode, literalmente, salvar vidas.

O fundo do oceano é a fronteira final da exploração em nosso planeta. É o último reduto de um mundo verdadeiramente desconhecido, um lugar de mistérios que estão, finalmente, sendo revelados. A cada nova descoberta, não estamos apenas preenchendo espaços em branco em um mapa; estamos aprendendo mais sobre o nosso lugar neste planeta azul. E isso é, sem dúvida, fascinante.

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